sábado, 31 de maio de 2025

A PSICOLOGIA DAS LEMBRANÇAS - COMO NOSSA MEMÓRIA MOLDA QUEM SOMOS


 Memórias Nossas de Cada Dia

Nossa identidade é tecida pelas lembranças que carregamos. São elas que nos conectam ao passado, influenciam nossas decisões promovendo a modelagem de nosso ser. A psicologia explica que a memória não é apenas um registro passivo de eventos, mas uma construção dinâmica, influenciada por emoções, hábitos e processos químicos do nosso cérebro. Memórias podem ser ativadas por estímulos externos e, muitas vezes, reinterpretadas com o tempo. Nesta reflexão, exploramos três tipos essenciais de memória: afetiva, muscular e química.

 

Memória Afetiva – O Coração das Lembranças

A memória afetiva nos remete a momentos que deixaram marcas emocionais profundas. A psicologia cognitiva vaticina que emoções intensas proporcionam a fixação das lembranças, tornando o seu fluxo mais continuo, permanentes e estáveis. Isso ocorre porque áreas como a amígdala e o hipocampo trabalham juntas para consolidar recordações emocionais.

O impacto da memória afetiva pode ser observado em diversos momentos da vida. Por exemplo, um cheiro de um bolo que sua avó preparava para a família pode trazer à tona lembranças da infância, trazendo a tona sentimentos associados àquele período. Uma música pode transportar alguém para um momento específico do passado, evocando sensações que pareciam adormecidas.

Além disso, estudos da psicologia afirmam que memórias afetivas podem influenciar nossa tomada de decisões. Quando enfrentamos situações similares às vividas anteriormente, nosso cérebro recorre a essas experiências emocionais para guiar escolhas e comportamentos. Assim, emoções e lembranças caminham juntas na construção da nossa percepção do mundo.


            “A memória é o diário que todos levamos conosco.” Oscar Wilde

 

Memória Seletiva – O Filtro da Identidade

A memória seletiva pode ser vista como um mecanismo que ajuda a moldar nossa identidade ao longo do tempo. Nossa mente tende a preservar memórias que reforçam nossa percepção sobre nós mesmos, enquanto outras podem ser esquecidas ou distorcidas.

Por exemplo, alguém que acredita ser corajoso pode se lembrar com mais intensidade dos momentos em que enfrentou desafios, mas pode não dar tanta atenção a situações em que sentiu medo ou hesitação. Esse processo pode influenciar diretamente nossa autoconfiança, nossas decisões futuras e até mesmo nosso modo de interagir com o mundo.

Estudos recentes revelam que a memória seletiva influência de maneira impactante os indivíduos em suas relações interpessoais. Quando nos lembramos apenas dos aspectos positivos ou negativos de uma pessoa ou situação, isso pode afetar a forma como nos relacionamos com ela no presente. É por isso que, muitas vezes, memórias influenciam julgamentos e sentimentos de maneira inconsciente.

O filme Divertidamente 2 (INSIDE OUT 2, 2024) explora de forma criativa a relação entre memórias e identidade. Ele introduz o conceito do Sistema de Crenças, mostrando como lembranças específicas podem influenciar diretamente a visão que Riley tem de si mesma e do mundo ao seu redor. O filme também destaca o impacto das experiências traumáticas, sugerindo que algumas memórias podem ser fragmentadas ou reprimidas, dificultando o processamento emocional completo. Além disso, Divertidamente 2 aborda a ansiedade como um fator que pode desestabilizar a mente. Diferente de emoções básicas como alegria e tristeza, a ansiedade não é um sentimento, mas sim um transtorno psicológico que pode comprometer o bem-estar. Esse aspecto do filme reforça a importância do autoconhecimento e da gestão emocional na construção da identidade e na forma como lidamos com os desafios da vida. Especialistas também alertam para o alto nível de estresse retratado na narrativa, o que pode ser intenso para crianças mais novas.

Memória Muscular – A Sabedoria do Corpo

A memória muscular é um tipo de aprendizado motor que permite realizar tarefas sem esforço consciente, resultado da prática e repetição. Psicologicamente, esse tipo de memória está ligado ao aprendizado implícito, que ocorre sem a necessidade de atenção ativa. O córtex motor e o cerebelo desempenham papéis cruciais nesse armazenamento, permitindo que gestos como tocar um instrumento ou digitar sejam executados com fluidez e precisão.

Um exemplo clássico de memória muscular é aprender a andar de bicicleta. No início, exige concentração e esforço, mas com o tempo, o movimento se torna automático. Outro exemplo é a digitação: os dedos se movem de maneira fluida sobre o teclado sem que seja necessário pensar na localização das letras. (Você se recorda da época das maquinas datilográfica?).

 

Estudos neurológico revelam que a memória muscular mantem se firme e resistente, mesmo após anos sem praticar determinada habilidade, ao retomá-la, o cérebro ativa rapidamente as conexões formadas anteriormente, facilitando a execução das atividade outrora suspensas. Isso explica por que músicos podem retomar uma peça musical após anos sem tocá-la ou por que um ex-atleta pode recuperar parte de sua habilidade com treino adequado.

 

Memória Química – O Labirinto Neurobiológico

Nosso cérebro é uma usina química em constante atividade, onde neurotransmissores como dopamina, serotonina e cortisol modulam nossas experiências e lembranças. A neurociência mostra que a dopamina melhora a retenção de informações ao reforçar circuitos de recompensa, enquanto altos níveis de cortisol, relacionados ao estresse, podem prejudicar a memória.

Pesquisas indicam que estados emocionais alteram a química cerebral e influenciam a qualidade da memória. Durante períodos de estresse intenso, o cérebro libera uma grande quantidade de cortisol, o que pode comprometer a capacidade de consolidar novas informações. Esse excesso pode dificultar a atenção e a retenção do aprendizado, tornando mais desafiador o armazenamento de memórias de longo prazo.
No entanto, o estado emocional positivo, momentos de felicidade e esperança, favorecem a produção da dopamina. Esse neurotransmissor atua fortalecendo circuitos neurais relacionados à memória e ao aprendizado, tornando a assimilação de informações mais eficiente e contribuindo para uma recordação mais clara.

 

Quer saber mais sobre como a memória seletiva pode ser usada de forma consciente para fortalecer aspectos positivos da sua identidade?

 

 

Bibliográficas

BADDELEY, Alan. Memória humana: teoria e prática. Londres: Psychology Press, 1997.

GAZZANIGA, Michael S.; IVRY, Richard B.; MANGUN, George R. Neurociência cognitiva: a biologia da mente. Nova York: W.W. Norton & Company, 2018.

PIXAR ANIMATION STUDIOS. Divertidamente 2. Direção de Kelsey Mann. Produção de Mark Nielsen. Estados Unidos: Walt Disney Pictures, 2024.

SHIFFRIN, Richard M.; SCHNEIDER, Walter. Processamento humano de informação controlado e automático. Psychological Review, v. 84, n. 2, p. 127-190, 1977.

SQUIRE, Larry R.; KANDEL, Eric R. Memória: da mente às moléculas. Nova York: Roberts & Company Publishers, 1999.

TULVING, Endel. Elementos da memória episódica. Oxford: Oxford University Press, 1985.


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