segunda-feira, 23 de junho de 2025

CONEXÕES — Network da Alma


 

Quando os Vínculos se Tornam Caminho de Cura

Vivemos conectados digitalmente, mas o afeto genuíno muitas vezes segue fora de alcance. Estamos todos ao alcance de um clique, mas raramente ao alcance de um abraço psíquico. Falta profundidade e talvez seja justamente isso que o network da alma vem nos lembrar: há vínculos que não se estabelecem com Wi-Fi, mas com escuta, presença e afeto.

O Que É Network?

No contexto tecnológico, trata-se de uma rede de dispositivos interligados que compartilham informações computadores, servidores, sistemas digitais. Neste texto, porém, a palavra ganha outra densidade: network da alma é uma rede invisível e afetiva, tecida pelas relações que nos marcam, sustentam e transformam. É o sistema silencioso de apoio emocional que criamos e que também nos cria ao longo da vida.

Uma Rede Artesanal

Esse network é artesanal. Ele se constrói no silêncio de uma companhia verdadeira, no olhar que acolhe a vulnerabilidade alheia, no tempo dedicado sem urgência de retorno. Cada elo é tecido por histórias compartilhadas e afetos que se cruzam, formando uma rede que ampara e sustenta o eu mais autêntico aquele que raramente aparece nos stories.

A Psicologia e os Vínculos

A psicologia contemporânea já não dissocia o sujeito de suas relações. Teorias como a do apego (Bowlby) e da intersubjetividade (Daniel Stern) mostram que nossa saúde emocional depende da qualidade das relações que estabelecemos desde o início da vida. Um bebê não se desenvolve em isolamento e o adulto também não. Somos continuamente moldados pelos afetos que recebemos e por aqueles que escolhemos doar.

Uma Rede de Espelhos

Assim, o network da alma é também uma rede de espelhos. Nos outros, nos reconhecemos, nos confrontamos, nos transformamos. Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicólogo suíço, afirmava que tornar-se quem se é exige atravessar sombras e muitas vezes, só com vínculos sólidos é que ousamos iluminá-las.

Camada Simbólica

Na mitologia grega, Ariadne oferece um fio a Teseu para que ele possa sair do labirinto após matar o Minotauro. Esse fio, metaforicamente, é também um vínculo. É o reencontro com a essência, que acalma e reorienta, permitindo que cada indivíduo retorne emocionalmente ao centro de si mesmo.

"Relacionar-se profundamente é tecer pontes onde antes só havia abismos."
(Pense nisso.)

Conclusão

Zelar pela rede afetiva que nos sustenta vai além de manter conexões: é reconhecer a importância dos afetos na construção do nosso ser. É reconhecer que somos interdependentes por natureza e que nossa inteireza se revela no entrelaçamento com o outro.

É nesse ponto, onde a afetividade se conecta com o tempo, que a sede de nossas emoções se ressignifica e respira com mais leveza. Talvez, no fim das contas, viver bem seja menos sobre acumular conexões e mais sobre cuidar das poucas, mas profundas, que nos mantêm inteiros.

Pergunta Provocadora

Quantos fios você tem deixado soltos na sua alma — e quantos tem coragem de costurar de volta ao seu próprio eixo emocional?

Referências
BOWLBY, John. Apego: A Natureza do Vínculo. Martins Fontes, 2002.
JUNG, Carl G. O Homem e Seus Símbolos. Nova Fronteira, 1991.
STERN, Daniel. O Mundo Interpessoal do Bebê. Martins Fontes, 1992.
TOLLE, Eckhart. O Poder do Agora. Sextante, 2002.
CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces. Cultrix, 2007.

Por: Antonio Evangelista
Psicólogo

 

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