Quando os Vínculos se Tornam Caminho de Cura
Vivemos conectados
digitalmente, mas o afeto genuíno muitas vezes segue fora de alcance. Estamos
todos ao alcance de um clique, mas raramente ao alcance de um abraço psíquico.
Falta profundidade e talvez seja justamente isso que o network da alma
vem nos lembrar: há vínculos que não se estabelecem com Wi-Fi, mas com escuta,
presença e afeto.
O Que É Network?
No contexto tecnológico,
trata-se de uma rede de dispositivos interligados que compartilham informações computadores,
servidores, sistemas digitais. Neste texto, porém, a palavra ganha outra
densidade: network da alma é uma rede invisível e afetiva, tecida pelas
relações que nos marcam, sustentam e transformam. É o sistema silencioso de
apoio emocional que criamos e que também nos cria ao longo da vida.
Esse network é
artesanal. Ele se constrói no silêncio de uma companhia verdadeira, no olhar
que acolhe a vulnerabilidade alheia, no tempo dedicado sem urgência de retorno.
Cada elo é tecido por histórias compartilhadas e afetos que se cruzam, formando
uma rede que ampara e sustenta o eu mais autêntico aquele que raramente aparece
nos stories.
A Psicologia e os Vínculos
A psicologia contemporânea já
não dissocia o sujeito de suas relações. Teorias como a do apego (Bowlby) e da
intersubjetividade (Daniel Stern) mostram que nossa saúde emocional depende da
qualidade das relações que estabelecemos desde o início da vida. Um bebê não se
desenvolve em isolamento e o adulto também não. Somos continuamente moldados
pelos afetos que recebemos e por aqueles que escolhemos doar.
Uma Rede de Espelhos
Assim, o network da
alma é também uma rede de espelhos. Nos outros, nos reconhecemos, nos
confrontamos, nos transformamos. Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicólogo
suíço, afirmava que tornar-se quem se é exige atravessar sombras e muitas
vezes, só com vínculos sólidos é que ousamos iluminá-las.
Camada Simbólica
Na mitologia grega, Ariadne
oferece um fio a Teseu para que ele possa sair do labirinto após matar o
Minotauro. Esse fio, metaforicamente, é também um vínculo. É o reencontro com a
essência, que acalma e reorienta, permitindo que cada indivíduo retorne emocionalmente
ao centro de si mesmo.
"Relacionar-se
profundamente é tecer pontes onde antes só havia abismos."
(Pense nisso.)
Conclusão
Zelar pela rede afetiva que
nos sustenta vai além de manter conexões: é reconhecer a importância dos afetos
na construção do nosso ser. É reconhecer que somos interdependentes por
natureza e que nossa inteireza se revela no entrelaçamento com o outro.
É nesse ponto, onde a
afetividade se conecta com o tempo, que a sede de nossas emoções se
ressignifica e respira com mais leveza. Talvez, no fim das contas, viver bem
seja menos sobre acumular conexões e mais sobre cuidar das poucas, mas
profundas, que nos mantêm inteiros.
Pergunta Provocadora
Quantos fios você tem deixado
soltos na sua alma — e quantos tem coragem de costurar de volta ao seu próprio
eixo emocional?
Referências
BOWLBY, John. Apego: A Natureza do Vínculo. Martins Fontes, 2002.
JUNG, Carl G. O Homem e Seus Símbolos. Nova Fronteira, 1991.
STERN, Daniel. O Mundo Interpessoal do Bebê. Martins Fontes, 1992.
TOLLE, Eckhart. O Poder do Agora. Sextante, 2002.
CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces. Cultrix, 2007.
Por:
Antonio Evangelista
Psicólogo
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