Por Antonio Evangelista
A imagem da flor branca ao
lado do notebook evoca duas forças aparentemente opostas: o ser que apenas é e
o fazer que exige sentido. A flor desabrocha sem perguntas; o notebook só ganha
valor quando preenchido de ideias. E entre esses dois polos, está o ser humano:
projetando significado em tudo, buscando justificar sua existência.
Essa busca por sentido é
central na experiência humana, e a sua ausência pode gerar um vazio
existencial. A Terapia Cognitivo-Comportamental reconhece isso ao abordar os pensamentos
automáticos negativos que surgem em momentos de perda de propósito.
Questionamentos como “por que continuo?”, “o que isso tudo significa?”, “tem
alguma utilidade?” revelam uma angústia legítima, não patológica em si, mas que
pode se tornar adoecedora se não acolhida.
“Quando a vida nos apresenta
flores e máquinas, talvez o que ela peça não seja escolha, mas escuta.”
SENTIDO E RESSIGNIFICAÇÃO
A TCC propõe que o sofrimento
psicológico está frequentemente ligado a interpretações distorcidas da
realidade. Em contextos de crise de sentido, essas distorções podem incluir:
- Generalizações negativas (“nada mais vale
a pena”)
- Catastrofizações existenciais (“se nada
tem sentido, então tudo está perdido”)
- Perda de perspectiva temporal (“vai ser
sempre assim”)
O processo terapêutico busca
ressignificar — não com respostas prontas, mas com perguntas guiadas, que
favoreçam o redirecionamento do olhar. E, curiosamente, é isso que sua imagem
propõe: a flor e o notebook não dizem nada, mas sugerem tudo.
VIKTOR FRANKL E A LOGOTERAPIA
Uma grande referência aqui
seria Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente de campos de concentração, que
desenvolveu a logoterapia — terapia centrada na busca de sentido. Para Frankl:
“O ser humano não está
destruído pelo sofrimento, mas pela perda do sentido no sofrimento.”
Sua reflexão dialoga
fortemente com isso: a dor da falta de sentido não se resolve apenas com
respostas racionais, mas com a disposição para ouvir o silêncio da flor e o
vazio da tela.
A FLOR COMO METÁFORA DO
SENTIDO SILENCIOSO
A flor não precisa justificar
sua existência. Ela floresce, silenciosa e inteira, sem necessidade de provar
sua utilidade. Talvez o sentido da vida não esteja apenas no que fazemos, mas
no modo como estamos no mundo. O notebook, ao seu lado, exige conteúdo,
ideias, produtividade; a flor, por sua vez, oferece presença. Enquanto um pede
respostas, a outra convida à escuta. E se o sentido não for algo a ser
conquistado, mas algo a ser reconhecido?
A ausência de sentido não é
apenas um dilema filosófico — é uma dor concreta. Quando perdemos o “para quê”
das nossas ações, instalam-se sintomas que vão além da tristeza: a
desmotivação, a apatia, a desconexão consigo e com os outros. A Terapia
Cognitivo-Comportamental (TCC) reconhece essa dor como legítima e propõe
caminhos de ressignificação. Ela nos ensina que certos pensamentos automáticos
— como “nada mais vale a pena” ou “vai ser sempre assim” — podem nos aprisionar
em narrativas de desesperança.
Mas talvez, quando a vida nos
apresenta flores e máquinas, ela não esteja exigindo uma escolha entre uma ou
outra, e sim nos pedindo algo mais sutil: escuta. Uma escuta que não busca
resolver, mas acolher. Nem tudo precisa ser entendido de imediato — algumas
coisas precisam apenas ser sentidas, vividas, respeitadas em seu silêncio.
Essa imagem da flor com o notebook me fez refletir demais... Ela mostra bem esse contraste entre só ser e a pressão de fazer o tempo todo. O texto tocou muito, principalmente na parte sobre escutar o outro, a si mesmo, e até o silêncio.
ResponderExcluirA forma como você trouxe a TCC e a logoterapia deixou tudo ainda mais claro. A gente esquece que o sentido da vida nem sempre está nas respostas, mas na forma como a gente escolhe olhar. Às vezes, só estar presente já é o bastante, como a flor que existe, impacta, e nem precisa se explicar.
Obrigada por compartilhar algo tão profundo. Que mais pessoas se sintam tocadas como eu fui.
Kamilla, suas palavras me emocionaram profundamente. Ontem, antes mesmo de escrever o texto, tirei aquela foto — e algo nela já me fez parar, respirar e apenas sentir. Fico muito feliz que tenha tocado você também.
ExcluirÉ bonito pensar nesse contraste que você trouxe: o ser versus o fazer, o silêncio que fala, e a flor que apenas existe, mas impacta. Saber que a TCC e a logoterapia ajudaram a clarear essas ideias só reforça pra mim que esse encontro de pensamentos valeu a pena.
Muito obrigado por compartilhar sua reflexão com tanta sensibilidade. Que esse sentimento de presença e significado continue se espalhando, assim como essa troca linda que tivemos aqui.